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segunda-feira, fevereiro 04, 2008

outras vidas

O meu bairro começou a crescer lá para os anos 20, 30 do século passado. Percebe-se isso pelas velhinhas gerações que ainda o habitam. Percebe-se também pelos vazios que outras gerações, ainda mais velhinhas, já por cá deixaram. Nestes vazios aterram outras histórias. Estas são de muitas cores e intensidades diferentes. Podem ser as novas e jovens famílias à procura de uma possibilidade de viver (ainda) no centro da cidade. Também são, tantas vezes, as famílias construídas à força da necessidade: de brasileiros, de chineses, de outros.
Há uma semana, encostado à roda do meu carro, estava um resto de um conjunto de restos. Atenção que dada a mobilidade do meu bairro, os restos vão surgindo com normalidade pelos passeios. Este resto era de uma agenda, amarela e incompleta. Não tinha capa, começava na página 3 e acabava na 256.
Peguei no despojo – sou, por natureza, uma respigadoura de vidas alheias – e guardei-o. A agenda remonta ao ano de 1942 e a dona foi uma jovem senhora, cujo nome desconheço. Talvez me venha apetecer ir contando a história desta jovem mulher, casada neste mesmo ano, e que vai deixando pequenas notas ao longo de alguns destes seus dias. Nada importante, tudo banal.
Portugal, Bairro das Colónias (Lisboa), ano de 1942.

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