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sábado, junho 09, 2007

[t*] o terceiro dia uma semana depois

Fui adiando, por motivos pessoais vários, escrever sobre o último dia da conferência internacional (passado sábado). Confesso que os três dias de intensivos ares arquitectónicos também me cansaram e me deixaram com vontade de ver as coisas acalmarem. Seja como for, não queria passar sem deixar alguns apontamentos sobre o fecho.
A 5.ª sessão, sob a designação de O centro da periferia, terá sido talvez a mais sólida e com aparência de fazer sentido como sessão. O moderador, o experiente Kurt W. Forster, recebeu Bjarke Ingels, Graça Dias e Emílio Tuñon.
Bjarke Ingels, jovem arquitecto dinamarquês, apresentou uns quantos projectos, a passo desempoeirado e quase lúdico. Para lá da eventual discussão aprofundada que se possa fazer sobre os trabalhos apresentados, interessa-me sublinhar a atitude. Por um lado, a postura descontraída, que nada tem a ver com superficial, na transmissão das histórias que suportam o processo e a produção das obras e das ideias do BIG. Acho sempre um disparate quando a cultura bacoca é usada como corta e cola para dar consistência ao que se diz e projecta. Acho igualmente tolo assistir a grandes traços e posturas suportadas por um nada imenso de ignorância. Este vazio intelectual que inventa tudo, sempre, em qualquer momento iniciático de novo projecto. Atavismo puro. Pois foi fora de qualquer uma destas postura que Ingels se localizou. Com o ar leve de quem fala das referências históricas compreendidas como quem fala do material escolhido para uma maqueta, surgem discretas pontes a exercícios anteriores, praticados por outros e usados como material de reflexão. A arquitectura alpina de Bruno Taut é só um exemplo.
O orador seguinte foi Manuel Graça Dias. E, numa apresentação que visava reflectir o que era proposto na sessão, apresentou cinco projectos e foi explicando a estratégias de lhes conferir capacidade de se constituírem como dinamizadores urbanos na zona onde surge. Foi uma palestra despretensiosa e limpa. A fechar o trio de oradores ouviu-se Emílio Tuñon. A apresentação foi a menos estimulante dos três. Uns quantos projectos foram apresentados, suportados pelas caixas duchampianas de síntese que fazem sempre a ponte supostamente artística da arquitectura para fora dela mesma. Isto deixa-me sempre desconfortável e a perguntar-me: mas o que é que tem a arquitectura que nos envergonha? Curiosa a opção de revestimento exterior do Museu do Automóvel (Madrid), suportada pela industria de reciclagem auto do encomendador, e que confere um carácter seguramente inesperado ao volume.
A sessão que fechou estas conferências internacionais teve o título de Cidades Instantâneas. Centros Instantâneos? não teve muito história. Ou muita história de interesse. Fechou de um modo constrangedor com a performance do Sr. Kaplicky. Antes passaram pelo palco o João Pedro Serôdio e o Kengo Kuma. Salvou o pacote a introdução de Diogo Seixas Lopes que tentou usar a História para enquadrar o tema. Assim, começou por reflectir sobre a Revolução Industrial (industrialização) como elemento similar ao momento da nova crise produzido pela globalização. Passou depois para uma pequena e curiosa apresentação sobre a foto de Jane Fonda em território de guerra (Vietname) que passa a filme, Carta a Jane (1972), de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin [colectivo Dziga Vertov]. A mim faltou-me um embrulho mais claro para esta proposta mas, pelos menos, tentou construir um discurso suportado pela disciplina da história que me pareceu um exercício possível.

TPC: Tive a sorte de ver o Eduardo Souto de Moura duas vezes numa semana. Primeiro na conferência internacional e ontem, no Estoril, enquadrada pela actividade do Pólo 4 da trienal. Foram muito interessantes as conversas e merecem uma posta (pelo menos) só para falar sobre isso. Falta também falar do documentário As operações SAAL, aqui já anunciado...

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